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PASSIFLORA

Passiflora incarnata L

Descrição

Planta trepadora perene, com folhas alternas trilobuladas, de cuja axila saem gavinhas que são enroladas em forma de espiral. As flores grandes, solitárias, com pedúnculo longo, branco violeta, são muito marcantes, com corola branca adornada por filamentos de cor purpura. Tem 5 grandes estames e pistilo súpero, com 3 estigmas. Fruto ovóide carnudo, verde a castanho claro, com numerosas sementes alveoladas, de cor amarelo pardo.

Originária da América, é cultivada em regiões tropicais e subtropicais. É uma planta que se cultiva como ornamento e às vezes naturaliza-se em algumas áreas da Região Mediterrânica.

Parte utilizada

Folhas e flores

Princípios ativos

Flavonoides (0,5-2,5%). Os principais compostos desta série são di-C-heterosÍdeos de flavones: shaftosídeos e isoshaftosídeos (ou seja, os C-glucosil-C-arabinosil apigenois, isómeros 6.8 e 8.6), bem como os O-glicosídeos em 2" isovitexina e iso-orientina (ou seja, os C-soforosídeos do apigenol e luteolol ). Para além destes compostos foram caracterizados: isovitexina, iso-orientina, vicenina-2 (di-C-glucosídeo do apigenol), o O-glucosídeo em 2" da isoescoparina, a swertisina e um di-C-glucosídeo do luteolol, a lucenina-2. A saponarina (7-O-glucosil-isovitexina) descrita no fármaco nos anos sessenta, não foi capaz de ser revelada em análises recentes, pode ter sido confundida com a 2"-O-glucosil-isovitexina. A composição qualitativa pode variar significativamente. Em geral, a isoviteina e o seu derivado glicossilado são predominantes.

Derivados pirânicos: maltol, etilmaltol.

Açúcares: mono, dissacarídeos e polissacarídeos (arabinoglicanos).

Heterosídeos cianogenéticos: ginocardina (0,1%).

Vestígios de óleo essencial.

Ácidos fenólicos.

Cumarinas.

Poliínos.

Esterois: Beta sistosterol, estigmasterol.

Alcaloides indólicos derivados da B-carbolina em proporção muito pequena nesta espécie: harmalina, harmane, harmina, harmanol.

Ação farmacológica

Sedativo do sistema nervoso (alcaloides, maltol e flavonoides) (Kreen, L. 2002) (Soulimani R et al. 1997). Embora tenha um efeito mais ansiolítico do que sedativo (Della Loggia R e cols. 1981). Comporta-se como um agonista parcial dos recetores centrais às benzodiazepinas.

Aos alcaloides frequentemente atribuem-se-lhes a ação sedativa da passiflora, no entanto, estes tipos de alcaloides têm uma ação estimulante do sistema nervoso central, uma vez que interagem com os recetores para as benzodiazepinas, além de inibir a monoaminaoxidase. Por outro lado, a harmina tem uma ação alucinogénica bem conhecida. O maltol tem um efeito antidepressivo e anticonvulsivo, mas as baixas concentrações em que é apresentado, não permitem justificar por si só a ação sedativa da passiflora. Parece que a ação se deve a uma sinergia entre os alcaloides, o maltol e os flavonoides (Fitoterapia Aplicada.  J.B. Peris, G.  Stübing, C.O.F. de Valência).

Antidepressivo leve, inibindo a monoaminaoxidase. Os alcaloides como o harmano exercem um efeito estimulante central em ratos, inibindo a monoaminaoxidase (MAO). Alguns autores também a consideram antidepressiva devido à inibição do GABA (Simmen U e cols. 1999).

Hipnótico. O extrato de passiflora, nos ratos, prolonga o tempo de sono induzido pelo pentobarbital e reduz a atividade motora espontânea em doses baixas. Em animais experimentais provou-se que o maltol e o etilmaltol têm um efeito sedativo sobre o sistema nervoso central, em doses de 400 mg/kg, induzindo o sono por barbitúricos.

Miorrelaxante (maltol).

Antiespasmódico gastrointestinal (flavonoides).

Sedativo do sistema cardiovascular (alcaloides, maltol e flavonoides).

Alguns autores também o consideram anti-asmático (Dhawan e cols. 2003).

 

A atividade ansiolítica e miorrelaxante deve-se aos flavonoides, especialmente à crisina (5,7- dihidroxiflavona), que atua com agonista parcial dos recetores centrais para as benzodiazepinas (Zanoli e cols. 2000).

 

Indicações

Ansiedade, hiperexcitação nervosa, insónia, distónias neurovegetativas.

Taquicardia e eretismo cardiovascular, hipertensão.

Espasmos intestinais e úlceras gastrointestinais.

Distúrbios da menopausa.

Contraturas musculares. Torcicolos, lombalgias e miastenias.

Outros usos:

Desintoxicação de opiáceos com clonidina (Akhondzadeh e cols. 2001-a).

Desintoxicação alcoólica (Dhawan e cols 2002-a).

Antitússico semelhante à codeína (Dhawan K e Sharma A. 2002-a)

Aumenta a libido, melhora a fertilidade, aumenta a quantidade de esperma nos ratos (Dhawan K e Sharma A. 2002-b)

Previne a zoospermia induzida pela nicotina e álcool (Dhawan K e cols. 2002-c).

Contraindicações

Hipersensibilidade a qualquer um dos seus componentes.

Gravidez. A passiflora não deve ser usada durante a gravidez devido à presença de alcaloides que podem provocar efeitos adversos no feto.

Lactação. A plassiflora não deve ser utilizada durante a lactação devido à presença de alcaloides que possam aceder ao leite materno e provocar efeitos adversos no lactante.

Precauções e Interações com medicamentos

Interações com medicamentos:

 

A passiflora pode potenciar os efeitos dos inibidores da monoaminaoxidase (IMAOs) porque os alcaloides indólicos também são inibidores da referida enzima.

A passiflora pode aumentar o efeito sedativo, provocado pelos barbitúricos, benzodiazepinas, anti-histamínicos H1 e o álcool.

Efeitos secundários e toxicidade

Nas doses em que é habitualmente utilizada, carece de toxicidade. O pó total da parte ativa administrada por os no rato, não provoca qualquer toxicidade aguda e subaguda (1,8 g/kg, 300 e 600 mg/kg/dia, rato, por os) (100 Plantes Medicinales. Deuxieme edition. Max Rombi).

Doses elevadas da droga, ou dos seus derivados galénicos, podem causar náuseas e vómitos devido ao seu intenso sabor amargo. Foi descrito um caso de um paciente que apresentou náuseas, vómitos, sonolência, QT aumentado e episódios de taquicardia ventricular com doses habituais da planta (Fischer e cols 2000).

Efeitos paradoxais: em pessoas sensíveis, embora não seja habitual (é mais frequente com valeriana), pode apresentar fenómenos de superexcitação e insónia (Bachiller, LI 2002).

Pode provocar alterações de consciência. O fármaco é considerado não tóxico: recentemente, cinco casos de desordens de consciência foram publicados na Noruega, como consequência da utilização de um produto à base de passiflora (SolbakkenA.M. RobakkenG. e Rio Gundersen, T. (1997). Naturmedisin som rusmiddel (A Herbal Product Used for Intoxication), Tiddsskr. Nor. Laegeforen, 117, 1140-1141. (Farmacognosia. Fitoquímica Plantas Medicinales. Jean Bruneton. 2ª ed. 2001).

Asma e rinite ocupacionais mediadas por Ig E x inalação em manipuladores da planta (Giavina Bianchi e cols. 1997)

Estudos

Estudos sobre os seus efeitos no SNC:

 

Foi estudada a atividade de sete extratos vegetais, administrados oralmente no SNC do rato, entre eles Pasiflora incarnata, observando-se para esta planta um efeito ansiolítico, mais do que sedativo (Della Loggia e cols. 1981)

 

Avaliou-se um extrato hidroalcoólico e aquoso das partes aéreas da Pasiflora incarnata L., bem como os componentes químicos da planta (alcaloides indólicos, maltol e flavonoides) sobre o comportamento em ratos. As propriedades psicotrópicas foram confirmadas por diferentes testes para avaliar o comportamento. Em doses de 400 mg/kg foram confirmadas as propriedades ansiolíticas do extrato hidroalcoólico e as propriedades sedativas do extrato aquoso. O extrato aquoso foi capaz de induzir o sono em ratos após administrar-lhes doses subhipnóticas de pentobarbital (Soulimani R e cols. 1997).

 

Num estudo controlado aleatório, compara-se a ação da clonidina associada à passiflora ou ao placebo na desintoxicação de 65 pacientes externos, viciados em opióides. O tratamento foi administrado durante 14 dias (0,8 mg de clonidina mais 60 gotas de extrato passflora ou a mesma quantidade de clonidina mais o placebo) e a gravidade dos sintomas de abstinência foi medida, usando a escala SOWS nos dias 0, 1, 2, 3, 4 e 7. Ambos os protocolos foram igualmente eficazes no tratamento dos sintomas físicos, mas o grupo em que se havia usado a passiflora, tinha um resultado superior em termos dos sintomas mentais. Akhondzadeh S, Kashani L, Mobaseri M, Hosseini SH, Nikzad S, Khani M. Passionflower in the treatment of opiates withdrawal: a double-blind randomized controlled trial. J Clin Pharm Ther. 2001;26(5):369-73.

 

Num estudo duplo-cego, aleatório, sobre 36 pacientes, ao longo de quatro semanas, comparou a eficácia de Pasiflora incarnata L. com oxacepam no tratamento da ansiedade. Ambos foram eficazes no tratamento da ansiedade em relação ao placebo, observando-se uma maior incidência de efeitos indesejáveis nos pacientes tratados com oxacepam. Akhondzadeh S, Naghavi HR, Vazirian M, Shayeganpour A, Rashidi H y Khani M. Passionflower in the treatment of generalized anxiety: a pilot double-blind randomized controlled trial with oxazepam. J Clin Pharm Ther. 2001;26(5):363-7.

 

Observou-se que uma fração derivada do extrato metabólico de P. incarnata L. tem uma atividade ansiolítica muito significativa em doses de 10 mg/kg, nos ratos.  Postula-se a possível existência de um constituinte com núcleo benzoflavona, responsável por esta ação. Dhawan K, Kumar S y Sharma A. Anti-anxiety studies on extracts of Passiflora incarnata Linneaus. J Ethnopharmacol. 2001;78(2-3):165-70.

Os compostos com ação ansiolítica são encontrados, principalmente, nas folhas, sendo necessárias doses mais elevadas, quando a parte aérea ou toda a planta são usadas. Dhawan K, Kumar S y Sharma A. Anxiolytic activity of aerial and underground parts of Passiflora incarnata. Fitoterapia. 2001;72(8):922-6.

 

Nos ratos, nos quais se criou dependência do álcool, foi-lhes administrado, durante uma semana, placebo, álcool e álcool mais 3 doses de P. Incarnata (10, 20 e 50 mg/kg). Em todos os casos, o tratamento foi administrado duas vezes por dia, durante 6 dias. Noutro  grupo de ratos, também com dependência, foi-lhes administrado a P. incarnata L. apenas um dia. Em todos os casos, observou-se uma diminuição dos efeitos da abstinência do álcool, bem como uma diminuição da ansiedade. Em todo o caso, a administração contínua da planta teve um efeito preventivo mais acentuado dos sintomas do que a administração de uma única dose. Dhawan K, Kumar S y Sharma A. Suppression of alcohol-cessation-oriented hyper-anxiety by the benzoflavone moiety of Passiflora incarnata Linneaus in mice. J Ethnopharmacol. 2002;81(2):239-44.

 

Da mesma forma, ocorreu quando usado juntamente com o THC, prevenindo o desenvolvimento da tolerância e dependência aos canabinóides, nos ratos. Mesmo uma dose única diminuiu os efeitos da sindrome de abstinência. Dhawan K, Kumar S y Sharma A. Reversal of cannabinoids (delta9-THC) by the benzoflavone moiety from methanol extract of Passiflora incarnata Linneaus in mice: a possible therapy for cannabinoid addiction. J Pharm Pharmacol. 2002;54(6):875-81.

Estudo sobre os seus efeitos antitússicos:

 

O extrato metabólico de folhas de P. incarnata L., em doses de 100 e 200 mg/kg per os, tem um efeito antitussigeno significativo sobre a tosse induzida pelo dióxido de enxofre nos ratos. Esta inibição é comparável à do fosfato de codeína em doses de 10 e 20 mg/kg per os, respectivamente. Dhawan K y Sharma A. Antitussive activity of the methanol extract of Passiflora incarnata leaves. Fitoterapia. 2002;73(5):397-9.

 

Estudos sobre os seus efeitos na esfera genital:

 

Avalia-se a ação de um composto (BZF) de P. inarnata L. sobre a diminuição da fertilidade, da libido e do acasalamento nos ratos, induzida pela nicotina e pelo etanol. Foi-lhes administrado etanol, nicotina e etanol+nicotina sozinhos ou em conjunto com a BZF, durante 30 dias, e observou-se que não houve tal diminuição. Aos grupos de ratos sem tratamento prévio com BZF, foram administrados, durante 7 dias, o mesmo tratamento, observando neles uma recuperação das suas funções sexuais, restaurando os níveis de testosterona no sangue. BZF é um potente inibidor da enzima aromatase. Dhawan K, Kumar S y Sharma A. Beneficial effects of chrysin and benzoflavone on virility in 2-year-old male rats. J Med Food. 2002;5(1):43-8.

A administração de crisina (1 mg/kg) e BZF (10 mg/kg), em ratos de 2 anos, permitiu observar  um aumento da libido, aumento da quantidade de esperma, aumento da fertilidade e uma ninhada maior quando acasalavam. BZF revelou-se mais  potente do que a crisina, como agente antiaromatase. Dhawan K y Sharma A. Prevention of chronic alcohol and nicotine-induced azospermia, sterility and decreased libido, by a novel tri-substituted benzoflavone moiety from Passiflora incarnata Linneaus in healthy male rats. Life Sci. 2002;15;71(26):3059-69.

Estudos sobre os seus efeitos anti-asmáticos:

 

Foi avaliado o efeito de um extrato metanólico de folhas P. Incarnata pelo seu efeito antiasmático em cobaias com broncoespasmo induzido por acetilcolina. Foram utilizadas doses de 50, 100 e 200 mg/kg, durante 7 dias, observando-se uma diminuição das convulsões relacionadas com a dispneia, apenas nos animais aos quais se administravam 100 mg/kg. Isto pode dever-se a uma função defeituosa do α-adrenoreceptor que foi reportado como ocorrendo na sequência da administração excessiva ou contínua de um agonista α-receptor. Dhawan K, Kumar S y Sharma A. Antiasthmatic activity of the methanol extract of leaves of Passiflora incarnata. Phytother Res. 2003;17(7):821-2.

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