Descrição
Planta herbácea vivaz,
perene, até 150 cm, peluda. As raízes são longas, cilíndricas, carnudas,
ligeiramente torcidas, até 2 cm de espessura, com sulcos longitudinais
profundos. A superfície é castanha-acinzentada, estriada na casca e branca no
interior, e tem numerosas cicatrizes das raízes. Caule robusto e ereto, que
pode chegar até 2 m, verde, tomentoso esbranquiçado, simples ou pouco ramificado,
densamente estrelado-pubescente no topo e nos ramos e glabrescente na base.
Folhas alternas, com estipulas caducas, lanceoladas ou lineares; limbo de
1,5-10 x 1,5-7 cm, com borda crenado-serrilhada e estrelado-pubescente em ambos
os lados; os inferiores largamente peciolada, por vezes quase orbicular ou reniforme e
inteiro ou muito ligeiramente 2-3 lobadas; as superiores mais curtas pecioladas,
de triangular-ovais a romboidais e ligeiramente 3-5 lobadas. Flores
hermafroditas, regulares, solitárias ou reunidas em fascículos pedunculados;
axilares sobre pedúnculos curtos, de 2 -10 mm, estrelado-pubescente. Epicálice
formado por 6 a 12 peças lineares ou linear-lanceoladas de 8-12 mm de
comprimento e soldadas na base. Cálice formado por cinco sépalas soldadas na
base, triangular-ovais ou oval-acuminados, estrelo-pubescentes, e 8-12 mm de
comprimento. Corola, rosa pálido, branco ou rosado-roxo, formada por cinco
pétalas livres, 10-18 x 6-15 mm, amplamente ovais ou oblongo-ovais, com unha
peluda-cíliada. Numerosos estames soldados pelo filamento, formando um tubo que
envolve o pistilo. Ovário supero, com numerosos carpelos e lóculos, cada um dos
quais contém um primordio seminal. O fruto é um poliaquénio, esquizocarpo
discoideo, dividido em 15 a 25 mericarpos monospermos, 3,5-4,5 x 3,5-4 mm,
cobertos de indumento pubescente estrelado, com dorso não aquilado, lisos e
verde-amarelado. Pertence à família Malvaceae.
É originária da Europa e
da Ásia Ocidental. Encontra-se em locais húmidos e terrenos salinos, áreas
pantanosas, pântanos, margens de riachos de quase toda a Península. Floresce de
junho a setembro e as raízes são colhidas no outono a partir do segundo ano; as
flores e as folhas serão colhidas num dia seco e ensolarado e secarão
rapidamente. As folhas são colhidas em junho, antes da floração.
Também é conhecida pelo
nome de altea, bismalva, erva canhamera, malvi, alteia, malbabizku, gloriatze. Althaea é uma palavra grega, que significa com
propriedades medicinais, enquanto officinalis refere-se a qualquer planta utilizada
na medicina.
Parte utilizada
Geralmente utiliza-se a
raiz, ainda que, eventualmente, também se possam usar a folha e a flor.
Princípios ativos
A raiz:
Mucilagens glucurónicas e
galacturónicas (5-30%), com uma estrutura altamente ramificada, composta por
D-galactose, L-ramnose e ácidos D-glucurónico e D-galacturónico.
Pectinas (10%).
Asparagina (1-2%).
Betaína.
Amido (35%).
Taninos (10%).
Lípidos, lecitina.
Fitoesterol.
Goma.
Oxalato de cálcio.
Flavonoides: escopoletol,
quercetol, kenferol, 8-hidroxi-luteolina, 8-beta-gentiobiosídeo.
Hidroxicumarinas.
Ácidos fenólicos
derivados do ácido benzoico: ácido siríngico.
Ácidos fenólicos
derivados do ácido cinâmico: ácido cafeico e ferúlico.
Fração de polissacarídeo.
Vestígios de óleo
essencial: azuleno, cariofileno, eucaliptol, e pineno, borneol.
Água (10-12%) e 5-7% matérias
minerais.
As folhas:
Mucilagens (10%).
Flavonoides.
Amido.
Vestígios de óleo
essencial.
As flores:
Mucilagem (5-10%).
Vestígios de óleo
essencial.
Flavonoides.
Ação farmacológica
Em uso interno:
Emoliente, demulcente e
protetora das mucosas (mucilagens).
Béquico ou antitussivo (mucilagens).
As mucilagens exercem um efeito calmante na mucosa respiratória, aliviando a
irritação e inibindo o reflexo da tosse.
Expectorante (mucilagens).
Laxante suave (mucilagens).
O efeito laxante manifesta-se após 24 horas da sua administração. Em contacto
com a água, a mucilagem forma um gel viscoso e volumoso que aumenta o volume
das fezes, que também permanecem macias, promove o peristaltismo e confere-lhe
o efeito laxante mecânico. Também costuma utilizar-se como suavizante, para
contrariar o uso de sene ou outro laxante irritante com antraquinonas.
Anti-inflamatório
(mucilagem). A abundância de mucilagem produz um revestimento da mucosa,
especialmente a nível orofaríngeo, protegendo-a das inflamações locais.
Experiências in vitro mostraram que a maceração a frio da raiz de malvavisco
(6,4 mg/140 ml) provocava uma inibição da motilidade ciliar do epitélio ciliar,
do esófago da rã, em 17%.
Imunoestimulante (fração
de polissacarídeo). As investigações realizadas, deram como resultado que os polissacarídeos
isolados da raiz de malvavisco, administrados intraperitonealmente em ratos (10
mg/Kg), produziram um aumento da atividade fagocítica dos macrófagos, o que é
interpretado como um efeito imunomodulador não específico. Várias experiências
têm demonstrado que in vitro tem um efeito estimulante na produção de IL-1 e
INF, e que promove a atividade dos linfócitos B e T.
Hipoglicémico
(mucilagens, fração de polissacarídeos). As mucilagens aumentam a viscosidade
do bolo alimentar, diminuindo a absorção oral dos glúcidos. Em estudos realizados,
observou-se também que a fração de polissacarídeos produziu uma ação
hipoglicémica significativa, em ratos (a administração intraperitoneal de 10,
30 e 100 mg/Kg produzida, após 7 horas, uma redução da glicemia de 74, 81 e
65%, respectivamente).
Em uso externo:
Emoliente e calmante
(mucilagens).
Anti-inflamatória.
Indicações
Em uso interno:
Inflamação e irritação da
mucosa oral e digestiva: estomatite, gengivite, refluxo gastroesofágico,
hiperacidez gástrica, gastrite, enterite, úlcera gastroduodenal, síndrome do
intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn, colite
ulcerosa).
Inflamação e irritação da
mucosa respiratória: faringite, amigdalite, laringite, tosse seca,
constipações, gripe e bronquite.
Leve obstipação.
Em alguns lugares, utiliza-se
a raiz de malvavisco, chupada ou mastigada, como calmante na dentição dos
bebés.
O malvavisco, de acordo
com o Conselho Geral das Câmaras Oficiais de Farmacêuticos, considera a sua
utilização segura durante a gravidez e a lactação.
Em uso externo:
Abcessos, para amadurecer
borbulhas e furúnculos, dermatite, eczema, queimaduras, picadas de insetos.
Gingivite, estomatite.
As folhas:
Inflamações da mucosa
oral e faringe.
Tosse seca associada à
faringite.
Contraindicações
Em doentes que apresentem
uma reação alérgica ou idiossincrática a qualquer um dos componentes da
fórmula.
Tal como outras plantas
com mucilagem na sua composição, não deve ser utilizada em caso de:
Obstrução esofágica,
oclusão intestinal, obstrução ou estenose gastrointestinal, íleo espástico e
paralisante. O malvavisco pode causar um agravamento destas condições, se a
ingestão de água não for a adequada.
Dor abdominal de origem
desconhecida. O malvavisco pode mascarar um quadro mais grave, atrasando o seu
diagnóstico.
Apendicite. O malvavisco
pode agravar a apendicite devido aos seus efeitos laxantes.
Impactação fecal.
Precauções e Interações com
medicamentos
Devido à sua abundância
de mucilagens, existe um risco potencial de redução da absorção de outras
substâncias medicinais, se forem tomadas ao mesmo tempo. Por isso, recomenda-se
distanciar as doses de malvavisco de outros princípios ativos.
Pelo contrário, pode ser
um interessante complemento terapêutico para evitar o aparecimento de problemas
gástricos quando são prescritas tisanas com um alto teor de taninos.
Deve ser usado com
cuidado em doentes com diabetes, porque pode provocar hipoglicemia. Quando
prescrito a diabéticos, deverá controlar-se a glicemia para ajustar, se
necessário, as doses de insulina ou antidiabéticos orais.
Interações com medicamentos:
Pode diminuir a absorção
de outros medicamentos devido ao seu teor de mucilagem:
Antidiabéticos orais e
insulina. O malvavisco pode potenciar os efeitos dos antidiabéticos orais e da
insulina, e levar à hipoglicemia. Em caso de coadministração, devem reajustar-se
as doses dos mesmos.
Efeitos secundários e
toxicidade
Não foram reportadas
reações adversas nas doses terapêuticas recomendadas.
Estudos sobre a sua ação expectorante:
* Muller-Limmroth W, Frohlich HH. Effect of various phytotherapeutic expectorants on mucociliary transport. Fortschr Med. 1980 Jan 24;98(3):95-101. PMID: 7364365 [PubMed-indexed for MEDLINE].
A velocidade normal de
transporte do epitélio ciliado isolado, do esófago da rã, revelou ser
228+/-15micron. s-1. O bromhexim aumentou este meio de transporte em 1,34 fold
e o KNEIPP-Hustentee em 1,38 fold. Os componentes do chá expectorante tiveram
efeitos diferentes na atividade mucociliaria. Os seguintes ingredientes
aumentaram o nível de transporte (por ordem decrescente): folha de Tusilago,
frutos de funcho e fruto de Anis. A erva de plátano, as flores de Gordolobo e a
raiz de alcaçuz, eram ineficazes, enquanto as sementes de Feno grego, a raiz de
Malvavisco e o tomilho tinham um efeito inibidor (por ordem crescente). Os dois
últimos grupos de ingredientes foram constituintes do chá porque os efeitos
adicionais foram-lhes atribuídos como efeitos protetores, devido a camadas de mucosas
e a efeitos espasmólíticos, bactericidais e secretolíticos.
Estudos sobre a sua ação antitussiva:
* Nosal'ova G, Strapkova A, Kardosova A, Capek P, Zathurecky L, Bukovska E. Lehrstuhl fur Pathophysiologie und Pharmakologie, Medizinische Fakultat Comenius Universitat, Bratislava, CSFR. Antitussive action of extracts and polysaccharides of marsh mallow (Althea officinalis L., var. robusta). Pharmazie. 1992 Mar;47(3):224-6. PMID: 1615030 [PubMed-indexed for MEDLINE].
O extrato composto e os
polissacarídeos isolados das raízes de malvavisco foram examinados pela
atividade antitussiva, em gatos não anestesiados de ambos os sexos. A tosse foi
provocada pela estimulação mecânica da área de mucosa laringefaringe e
traqueobronquial do sistema respiratório, com uma erva de Nylon (diâmetro
0,35mm). A tosse foi avaliada com base em alterações na pressão traqueal
lateral. Os polissacarídeos e o extrato composto foram administrados numa dose
de 50 e 100mg/kg, respectivamente. A eficácia dos compostos acima referidos foi
comparada com o efeito supressor da tosse, das drogas correspondentes a
supressores de tosse não narcóticos. Os resultados das experiências revelaram
que a administração dos polissacarídeos se destinava a uma diminuição,
estatisticamente significativa, do número de esforços de tosse em ambas as áreas,
laringofaringe e traqueobronquial do sistema respiratório. Os polissacarídeos numa
dose de 50mg/kg foram tão eficazes na inibição do reflexo da tosse, como o
xarope de malvavisco numa dose de 1000mg/kg e mais eficaz do que a
pré-noxdiazina numa dose de 30mg/kg. No entanto, o efeito supressor da tosse
dos polissacarídeos foi inferior ao da dropopizina. O extrato foi menos eficaz
que o polissacarídeo.
Schmidgall, J.; Schnetz, E.; Hensel, A. Evidence for Bioadhesive Effects of Polysaccharides and Polysaccharide-Containing Herbs in an ex vivo Bioadhesion Assay on Buccal Membranes. Planta med 2000; 48-53. DOI: 10.1055/s-2000-11118
Estudos sobre o seu efeito antidiarreico:
* Guevara JM, Chumpitaz J, Valencia E. Instituto de Medicina Tropical Daniel A. Carrion, Facultad de Medicina, Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima, Peru. The in vitro action of plants on Vibrio cholerae. Rev Gastroenterol Peru. 1994 Jan-Apr;14(1):27-31. PMID: 8018898 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Os produtos naturais de
várias plantas, de acordo com a localização geográfica, são utilizados pela
população peruana no tratamento popular da diarreia, com bons resultados.
Quando os casos de cólera apareceram no Peru, estávamos interessados em conhecer
o efeito "in vitro" contra Vibrio cholerae 01, daquelas plantas
usadas para tratar a diarreia. Foram examinadas as seguintes plantas: Cichorium
intybus, Althaea officinalis, Psorela glandulosa, Geranium maculatum, Punica
granatum, Malus sativa, Cydonia oblonga, Chenopodium ambrosoides, Krameria
triandria, Tea chinensis, Daucus carota, Persea gratissima, Psidium guayaba e
Lippia dulcis. A decocção ou infusão destas plantas foi usada em experiências “in
vitro”. As seguintes plantas mostraram um efeito não "in vitro" contra
V. Cholerae: Cichorium intybus, Althaea officinalis, Psorela glandulosa,
Geranium maculatum, Chenopodium ambrosoides, Krameria triandria, Psidium guava,
Lippia dulcis e Daucus carota. A decocção de Malus sativa e Cydenia oblonga
mostrou um efeito bactericidal devido à sua acidez e ao poço de abacate (Persea
gratissima) um efeito bactericida tardio. A infusão e decocção da pele de Punica
granatum, mostrou o melhor efeito bactericida e é sugerido como detenção à
difusão da cólera.
Estudo sobre o seu efeito antimicrobiano:
Czech, Erich; Kneifel, Wolfgang; Kopp, Brigitte. Microbiological Status of Commercially Available Medicinal Herbal Drugs-A Screening Study. Planta med 2001; 263-269. DOI: 10.1055/s-2001-12007.
Estudos sobre a sua capacidade de potenciar a ação anti-inflamatória dos esteróides no uso tópico:
* Piovano PB , Mazzocchi S. Clinical trial of a steroid derivative (9-alpha-fluoro-prednisolone-21-acetate) in association with aqueous extract of althea in the dermatological field. G. Ital Dermatol Minerva Dermatol, 45(4): 279-86 1970. PMID: 5537593 [PubMed-indexed for MEDLINE].
* Huriez C, Fagez C. On the association of althea and dexamethasone: Dexalta ointment. Lille Med. 1968 Feb;13(2):Suppl:121-3. PMID: 5745965 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Estudos sobre a sua composiçãoquímica:
* Mishina AS, Kornievskii IuI, Shkurupii SM, Dolia VS. Fatty oil of Althea officinalis, stoloniferous valerian and golden wallflower. Farm Zh. 1975 Sep-Oct;(5):92-3. PMID: 1225566 [PubMed-indexed for MEDLINE].
* Karawya MS, Balbaa SI, Afifi MS. Investigation of the carbohydrate contents of certain mucilaginous plants. Planta Med. 1971 Jul;20(1):14-23. PMID: 5154598 [PubMed-indexed for MEDLINE].
- Real Farmacopea Española, 1997.
- British Herbal Pharmacopoeia, 1983.
- Herbal Drugs and Phytopharmaceuticals. Norman Grainger Bisset (Ed). Max Wichtl. CRC Press.1994.
- Plantas Medicinales y Drogas Vegetales para infusión y tisana. Edición española a cargo de: Salvador Cañogueral, Roser Vila, Max Wichtl.1998.
- Plantas Medicinales. Margarita Fernandez y Ana Nieto. Ed Universidad de Navarra. EUNSA 1982.
- Fitoterapia: Vademecum de Prescripción. Plantas Medicinales. Colaboran: Asociación española de médicos naturistas. Colegio Oficial de Farmacéuticos de Vizcaya.
- Matière Médicale (tomo II). RR Paris- H. Moyse. Masson 1981.
- The Complete German Commission E Monographs. Therapeutic Guide To Herbal Medicines. Mark Blumenthal. American Botanical Council 1998.
- Fitoterapia Aplicada. J.B. Peris, G. Stübing, B.Vanaclocha. Colegio Oficial de Farmacéuticos de Valencia 1995.
- Pharmacognosy, Phytochemistry, Medicinal Plants. Jean Bruneton. Lavoisier Publishing.
- Plantas Medicinales. El Dioscórides Renovado. Pio Font Quer.
- Guía de Campo de las Flores de Europa. Oleg Polunin. Ediciones Omega S.A. Barcelona, 1977.
- Pharmacognosy 9th edition. Varro E. Tyler – Lynn R. Brady – James E. Robbers.
- Jean Bruneton. Farmacognosia. Fitoquímica Plantas Medicinales. 2ª Edición. 2001. Ed Acribia. S.A.
- Bulletin officiel Nº 90/22 bis" del "Ministère des Affaires Sociales et de la Solidarité, Médicaments a base de Plantes.
- French Public Health Code.
- Benigni, R; Capra, C; Cattorini, P. Piante Medicinali. Chimica, Farmacologia e Terapia. Milano: Inverni & Della Beffa, 1962.
- Bézanger-Beauquesne, L; Pinkas, M; Torck, M. Les Plantes dans la Therapeutique Moderne. 2ª. Paris: Maloine, 1986.
- Bézanger-Beauquesne, L; Pinkas, M; Torck, M; Trotin, F. Plantes Médicinales des Regions Tempérées. Paris: Maloine, 1980.
- PDR for Herbal Medicines. Medical Economics Company, Montvale. Second Edition, 2000; pp 505-6.
- Blumenthal M, Goldberg A, Brinckmann J. Herbal Medicine, Expanded Commission E Monographs. Integrative Medicine Communications, Newton. First Edition, 2000; pp 244-8.