Descrição
Planta bianual ou perene,
com raiz de fusiforme, axonomórfica, bastante polpasa. O caule é ereto ou tombado,
grosso, cilíndrico, muito peludo, lenhoso na base, pode medir mais de 1 metro.
As folhas de palmatilobuladas, 5-7 lóbulos, largamente pecioladas, alternas e
de margem creta ou serrilhada, pubescentes (pêlos simples e estrelados), com
estípulas quando são jovens, são verde escuro; pecíolo peludo. Flores de 2-3 cm
de cor rosa-violeta frisadas de purpura, partem de finos talos secundários, de
cerca de 3 cms, dispostas em fascículos axilares; corola formada por 5 pétalas,
na forma de um coração alongado, de corte muito fundo. Sepalos 2 a 4 vezes
menor que as pétalas. Do centro da corola sai um único feixe com os estames
muito numerosos, fundidos pelos seus filamentos numa coluna em torno do estilo,
cobertos de pólen. Fruto em poliaquénio, esquizocarpo constituído por 10
mericarpios que se separam na maturidade, amarelado, contém sementes com uma
forma reniforme. Pertence à família das malváceas.
Originário da Europa.
Cresce espontaneamente em todos os tipos de terreno, desde que não sejam muito
secos. Floresce da primavera até ao fim do verão. As flores são recolhidas no
início da primavera, antes de abrirem (entre junho e agosto). As folhas devem
ser recolhidas quando a planta estiver bem florida, na primavera ou no verão
(entre junho e setembro).
O seu nome provém de
"malakos", que significa macio, devido ao caráter emoliente da
planta; “sylvestris" indica que a sua presença espontânea é frequente.
Parte utilizada
Utilizam-se as flores e
às vezes também as folhas.
Princípios ativos
As flores:
Mucilagens (10-15%) de
natureza urónica, que por hidrólise originam galactose, glicose, ramnose e
ácido galacturónico.
Flavonoides, heterosídeos
de flavonois e desidroflavonois.
Ácidos fenólicos.
Antocianosídeos (7%):
malvina (diglucosídeo de 3-5 do malvidol), delfinidol, e malvidol-3-glucosidol
(da-lhe a coloração vermelha).
Pequenas quantidades de
taninos.
Componentes sulfatados.
Óleo essencial.
Vitaminas A, B1, B2 e C.
As folhas:
Polissacarídeos
heterogéneos: Mucilagens (6-8%), tais como galacturonoramnanos e
arabinogalactanos.
Flavonoides: glicosídeos
de hipoaletina, gosipetina.
Taninos.
Ação farmacológica
Em uso interno:
Emoliente ou demulcente.
Anti-inflamatório e
descongestionante das mucosas irritadas.
Antitussivo: as
mucilagens exercem um efeito calmante sobre a mucosa respiratória, inibindo o
reflexo da tosse.
Expectorante e mucolítica.
Laxante mecânico
(mucilagens). Este efeito manifesta-se após 24 horas da sua administração. Após
o contacto com a água, as mucilagens formam um gel viscoso e volumoso que
aumenta o volume das fezes, que também permanecem macias; promove o peristaltismo
e confere-lhe um efeito laxante mecânico.
Ligeiramente diurética.
Adstringente suave
(taninos).
Popularmente, as folhas,
são consideradas hipoglicémicas. Alguns autores atribuem-lhe uma ação oxitócica
e estimulante do intestino.
Num estudo clínico,
observou-se que o extrato alcoólico de flores de malva estimula, favoravelmente,
a atividade fagocitária do sistema retículo-endotelial em ratos inoculados com
Escherichia coli. Escherichia coli.
Em uso externo:
Emoliente e protetora da
pele e mucosas (mucilagens). Atuam, cobrindo as mucosas com uma camada viscosa,
protegendo-as assim dos agentes irritantes.
A malva exerce um efeito
hidratante sobre a pele, devido à absorção de água por parte das mucilagens.
Indicações
Em uso interno:
Inflamações da mucosa
gastrointestinal: refluxo gastroesofágico, gastrite, úlcera gastroduodenal,
enterite.
Inflamações da mucosa
respiratória: constipações, faringite, laringite, rouquidão, amigdalite, asma,
gripe, bronquite.
Tos seca o irritante.
Obstipação crónica: atua
como um laxante não agressivo, que lubrifica a passagem intestinal. É
especialmente recomendado para crianças e idosos.
Inflamações das mucosas
do trato urinário: cistite, uretrite, pielite, oligúria (falta de produção de
urina).
Obesidade.
Em uso externo:
Faringite, glossite,
estomatite, aftas na boca, chagas na boca, dor de dentes na forma de gargarejos.
Vulvovaginite (irrigações
vaginais ou enteroclismas), inflamações do ânus e reto.
Blefarite, conjuntivite
sob a forma de compressas e banhos oculares (isotonizar).
Abcessos e furúnculos (cataplasmas
quentes), feridas, eczema, dermatose, acne, úlceras ou qualquer tipo de lesão
cutânea.
Picadas de insetos (suco
de planta fresca).
Contraindicações
Hipersensibilidade a
qualquer um dos seus componentes.
Dor abdominal de origem
desconhecida. Pode mascarar um quadro mais sério, retardando o seu diagnóstico.
Obstrução ou estenose do
aparelho digestivo, íleo espástico, íleo paralítico, apendicite, impacto fecal.
A malva pode provocar ou agravar estas condições, se a ingestão de água não for
a adequada.
Gravidez. A malva não
deve ser usada durante a gravidez devido à ausência de dados que avaliem a sua
segurança. Foram realizados estudos em várias espécies de animais, utilizando
doses várias vezes superiores às humanas, sem que tenham sido registados
efeitos embriotóxicos ou teratogénicos; no entanto, não foram realizados
ensaios clínicos em seres humanos, pelo que a utilização de malva só é aceite
em caso de ausência de alternativas terapêuticas mais seguras.
Lactação. A malva não
deve ser utilizada durante a lactação devido à ausência de dados que avaliem a
sua segurança. Desconhece-se se os componentes da malva são excretados em
quantidades significativas com o leite materno e se isso pode afetar a criança.
Recomenda-se parar de amamentar ou evitar a administração de malva.
Precauções e Interações com
medicamentos
Não foram reportadas
interações com medicamentos. No entanto, a presença de mucilagens significa que
existe um risco potencial de interação porque as mucilagens podem retardar ou
diminuir a absorção oral de outros princípios ativos. Por isso, recomenda-se
distanciar as doses de malva de outros princípios ativos.
Efeitos secundários e
toxicidade
Não foram reportadas
reações adversas nas doses terapêuticas recomendadas.
Estudo sobre a sua ação antimicrobial:
* de Souza GC, Haas AP, von Poser GL, Schapoval EE, Elisabetsky E. PPG-Botanica, ICBS, Av. Bento Goncalves 9500, Predio 43433, Sala 209, Brazil. Ethnopharmacological studies of antimicrobial remedies in the south of Brazil. J Ethnopharmacol. 2004 Jan; 90(1):135-43. PMID: 14698521 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Estudo sobre a sua atividade estimulante das defesas:
* Delaveau P, Lallouette P, Tessier AM. Stimulation of the phagocytic activity of R.E.S. by plant extracts (author's transl). Planta Med. 1980 Sep;40(1):49-54. PMID: 6999511 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Estudo sobre o seu efeito antioxidante:
* El SN, Karakaya S. Ege University, Faculty of Engineering, Department of Food Engineering, Izmir, Turkey. Radical scavenging an iron-chelating activities of some greens used as traditional dishes in Mediterranean diet. Int J Food Sci Nutr. 2004 Feb; 55(1):67-74. PMID: 14630594 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Estudos sobre a sua composição química:
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* Gonda R, Tomoda M, Shimizu N, Yamada H. Kyoritsu College of Pharmacy, Tokyo, Japan. Structure and anticomplementary activity of an acidic polysaccharide from the leaves of Malva sylvestris var. mauritiana. Carbohydr Res. 1990 May 1;198(2):323-9. PMID: 2379192 [PubMed-indexed for MEDLINE].
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