Descrição
É uma planta herbácea,
dioica, anual, originária da Ásia, que tem sido cultivada desde os tempos
antigos pelos seus múltiplos usos: como fonte de fibra têxtil, para extrair
óleo das suas sementes, como uma planta medicinal e como psicotrópico.
Também é conhecida como
cânhamo indiano ou marijuana.
É uma planta de grande
porte, que atinge até 4 m de altura, tem um caule ereto com folhas palmadas
estipuladas, as inferiores opostas e as superiores alternas. As folhas são
encontradas sobre pecíolos até 7 cm de comprimento. Cada folha é composta por
entre 3 a 9 folíolos estreitos, de ápice afiado, com margens serrilhadas e tricomas
glandulares, deitados sobre a face, e o avesso de uma cor mais clara. As tricomas
glandulares produzem uma resina como forma de proteger a planta contra as
agressões externas.
Tem inflorescências nas
axilas das folhas superiores ou no final dos ramos, com brácteas herbáceas e glandulosas.
As inflorescências masculinas são ramificadas, lassas e com muitas flores;
enquanto que as femininas são densas, mas com poucas flores (de 5 a 8). O fruto é
um aquénio, com uma única semente, ovoide, um pouco comprimido, branco ou
esverdeado, tingindo de roxo, fechado no perianto.
Recentemente, devido às
suas propriedades psicoativas, o cultivo de canábis foi proibido ou regulamentado
em muitos países.
Parte utilizada
Sumidades femininas secas
e prensadas.
Princípios ativos
A planta contém mais de
500 compostos, entre os quais se destacam os canabinóides, que se encontram nas
folhas e se concentram nas brácteas e na resina. Teoricamente, estão ausentes nas
sementes e nos caules.
Canabinóides: são os
metabolitos mais abundantes e exclusivos desta espécie. São compostos de
estrutura terpenofenólica e são conhecidos cerca de 70, sendo os mais destacados:
Δ9-tetrahidrocanabinol
(THC o Δ9 THC). Benzotetrahidropirânico.
Cannabinol (CBN). Produto
de degradação do THC. Dibenzopirânico
Canabidiol (CBD). Difenólico.
O THC e o CBD são
acompanhados pelos seus homólogos de cadeia lateral mais curta (propil e
metilcanabinóides), dos seus precursores (cannabigerol CBG), derivados
cromáticos (cannabiciclol, cannabicromeno) etc.
É geralmente chamado de
"cânhamo" às variedades com baixo teor de THC, usado para extrair as
suas fibras. O termo "marijuana" é utilizado para se referir às
variedades que contêm THC, e aos seus botões, que são as inflorescências não
fertilizadas dos pés femininos, em cujos pelos glandulares se sintetizam e
acumulam canabinoides em maior proporção do que no resto da planta.
Outros compostos
Óleo essencial: α-pineno,
mirceno, trans-β-ocimeno, α-terpinoleno, trans-cariofillno, α-humuleno, e óxido
de cariofileno.
Flavonoides.
Fitosterois:
estigmasterol, β-sitosterol, ergosterol, campesterol.
Alcaloides: derivados da
espermidina.
Ácidos gordos: linoleico,
oleico, esteárico, palmítico.
Proteínas, aminoácidos,
glicoproteínas, enzimas.
Açúcares: monossacarídeos,
dissacarídeos e polissacarídeos, aminoaçucares, ciclitois.
Outros: vitaminas,
pigmentos (carotenos e xantofilas), hidrocarbonetos, fenóis, etc.
Ação farmacológica
Os canabinóides, no organismo,
atuam no sistema canabinóide endógeno SCE.
O SCE é um sistema de
comunicação intercelular que participa, entre muitas outras funções biológicas,
no controlo da dor, inflamação, aprendizagem e memória, desenvolvimento
cerebral, apetite, movimento etc.
O SCE está localizada no
sistema nervoso, central e periférico, bem como noutros tecidos, onde existem
recetores específicos: CB1 e CB2. Os recetores CB1 estão localizados no sistema
nervoso central, onde modula a libertação de certos neurotransmissores, e em
alguns tecidos periféricos (pulmão, endotelio vascular, músculo liso, órgãos
reprodutivos e trato gastrointestinal), e os recetores CB2 estão localizados
principalmente no sistema imunitário e noutros tecidos (fígado, pâncreas e
medula óssea). Existem também outros recetores "adicionais", como o
recetor serotoninergico tipo 1A, ou o recetor N-araquidonil glicina.
A estes recetores juntam-se,
em modo de chave, os canabinóides (endógenos, fitocanabinóides do canhãmo e
canabinóides sintéticos), o que leva à ativação dos referidos recetores e à resposta
fisiológica correspondente.
-. Ação farmacológica do THC: TCH é o componente
mais potente do ponto de vista psicoativo. A maioria dos efeitos do TCH, tanto
procurados como indesejados, ocorrem ao nível do sistema nervoso central e são
dependentes da dose.
Efeitos psicoativos: no
início, sensação de bem-estar, euforia, às vezes ansiedade; posteriormente sedação,
sonolência, dificuldade em concentrar a atenção, taquicardia, descoordenação
motora, confusão, amnésia etc.
Outros efeitos: vários
estudos in vitro, com animais experimentais e clínicos têm demonstrado
atividades farmacológicas muito diversas, destacando os efeitos sobre a
espasticidade, bem como os antieméticos, estimulantes do apetite,
anti-inflamatórios e analgésicos.
-. Ação farmacológica do CBD: este composto atua,
regulando o sistema endocanabinóide do nosso organismo, carece de ação
psicotrópica e tem despertado um interesse crescente em relação ao seu potencial
terapêutico.
Efeitos: O CBD tem
demonstrado ter efeitos ansiolítico, anticonvulsivo, antipsicótico, imunomodulador,
neuroprotetor, entre outros, e é capaz de contrariar os efeitos negativos do
THC, tais como a perda de memória, a descoordenação motora ou a atividade ansiogénica.
Em uso tópico tem ação
analgésica, anti-inflamatória e antioxidante.
Analgésico: O CBD reduz a
produção de citocinas responsáveis pela ativação da dor e ativa os recetores
específicos envolvidos na modulação da dor, com resposta analgésica como o
recetor serotoninergico 5-HT1A.
Anti-inflamatório: O CBD
reduz a produção de citocinas envolvidas na resposta inflamatória TNF-α, IL-1,
IFN γ e quimiocinas.
Antioxidante: O CBD
neutraliza os radicais livres responsáveis pelo danos nos tecidos e pela
amplificação da resposta inflamatória.
Indicações
O cânhamo indiano está
incluído na lista de plantas cuja venda ao público é proibida ou restrita,
devido à sua toxicidade (Ordem SCO/190/2004, de 28 de janeiro).
Como potenciais aplicações
seriam: em caso de dor crónica, como antiemético em doentes que fazem quimioterapia,
na anorexia e caquexia em doentes com cancro terminal ou SIDA, na espasticidade
da esclerose múltipla, em alguns casos de epilepsia refratária ou em doenças
neurodegenerativas, entre outros.
Canabidiol (CBD). Em
Espanha só é permitida a utilização tópica:
Massagens: relaxante,
após exercício físico intenso, dores musculares, etc.
Dor nas articulações.
Dor lombar, cervicalgias.
Hematomas.
Uso cosmético para
cuidados da pele.
Contraindicações
Gravidez e lactação.
Feridas abertas,
dermatite.
Precauções
Antes de utilizar pela
primeira vez, é aconselhável aplicar na flexão do cotovelo para verificar a
tolerância.
Interações com medicamentos
No uso tópico, não foram
descritos.
Efeitos secundários
No uso tópico, não foram descritos.
Bibliografia
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