Descrição
É uma planta herbácea,
bienal, lampinha, até 100 cm de altura, com uma raiz principal fusiforme. A
raiz é pivotante e chega à superfície formando uma roseta ao nível do chão. O
caule é ereto, angular, com fissuras longitudinais, glabro e ramificado. Dentro
dela circula látex. Tem folhas, formando uma roseta basal e outras caulinares
distribuídas ao longo do caule. As folhas são glabras, tripinnaticompostas,
oblolongas, bippinado dividido, de cor verde claro. O caule e os ramos
principais terminam numa umbela de 8-16 flores brancas ou avermelhadas. O fruto
ou semente é um esquizocarpo glabro, oblongo e elíptico, com 2 merocarpos
acastanhados, em forma de foice e com costelas longitudinais, sendo muito
aromáticos. Pertence à família das Umbelíferas ou Apiaceas.
Floresce entre maio e
junho. Os frutos, de sabor a anis, são colhidos nos meses de julho e agosto,
durante o segundo ano do seu ciclo (bianual). Os frutos são colhidos antes de
amadurecerem completamente e as umbelas são cortadas quando os frutos ficam
castanhos. São amadurecidas ao sol ou à sombra e as sementes do fruto maduro
são descascadas.
Habitat
Originário do Turquestão,
provavelmente os árabes introduziram-na na Europa através da Andaluzia até ao
século IX ou VI, uma vez que no XI já era cultivada no sul da Península
Ibérica. Aparece espontaneamente na Europa e no norte da Ásia. Estendida pelos
prados das zonas montanhosas, é cultivada em grandes e pequenas plantações.
Também é conhecida pelos
nomes de cominho do prado, carvi, alcaravia, erva-doce de prado, alcarahueya ou
cominho alemão.
Parte utilizada
Os frutos são usados.
Princípios ativos
Óleo essencial (3-7%):
Monoterpenos: a e b pineno, felandrenos,
limoneno (30-40%), sabineno, 3-careno.
Monoterpenoles:
cis-carveol, dihidrocarveol.
Monoterpenonas:
(+)-carvona (50-65%), dihidrocarvona.
Metoxicumarinas:
hérniarina.
Furanocoumarins
(vestígios)
Compostos furanos:
anetofurano.
Ácidos fenolcarboxílicos:
cafeico.
Flavonoides: derivados do
kenferol e do quercetol (quercetin-3-glucoronido).
Isoquercitrina.
Lípidos: ácidos oleico,
linoleico, palmítico e petroselínico (15%), hidratos de carbono e proteínas.
Outros: taninos, oxalato
de cálcio, matéria corante e resina.
A Farmacopeia Espanhola
indica que o frutos da alcaravia deve conter pelo menos 30 ml/kg de óleo
essencial.
Ação farmacológica
Uso interno:
Carminativo (óleo
essencial). Produz relaxamento do músculo liso dos esfíncters, favorecendo a
eliminação de gases.
Digestivo, aperitivo e
eupeptico (óleo essencial). Produz uma estimulação local da mucosa gástrica,
levando à ativação do nervo vago e ao aumento do tono e da contração rítmica do
estômago, com o aumento da secreção gástrica, favorecendo a digestão dos
alimentos.
Antiespasmódico (óleo
essencial). A ação antiespasmódica foi demonstrada in vitro para o extrato
alcoólico, o qual produz uma diminuição na resposta dos compostos espasmódicos
(histamina e acetilcolina). Também a contratilidade máxima produzida pela
histamina foi reduzida pelo extrato.
Antibacteriano (óleo
essencial). A sua atividade antimicrobiana foi demonstrada para extratos etanólicos
e butanólicos contra diferentes microrganismos, entre os quais se destacam
Escherichia coli, Candida albicans e Staphylococucus aureus. Além disso, o
fruto da alcaravia inibe o crescimento e
a toxina produzida pelos Aspergillus, Epidermatophyton e espécies deTrichophyton.
Antifúngico (a (+)-carvona
demonstrou uma ação fungicida comparável à nistatina), larvicida e anthelmintica.
Mucolítico e expectante
(óleo essencial: (+)-carvona).
Galactogogo (óleo
essencial).
Emenagogo, tem atividade
estrogénica.
Colagogo e hidrocolerético
(óleo essencial).
Diurético.
Outras: ligeiramente
hipoglicémica e sedativa.
Uso externo:
Rubefaciente.
Indicações
Uso interno:
Problemas digestivos:
meteorismo, flatulência, aerofagia, espasmos gastrointestinais, sensação de
plenitude gástrica, síndrome de Roemheld (conjunto de manifestações clínicas:
palpitações, arritmia extrasistólica, dispneia de esforço, dispneia paroxísmica
pseudo-asmática, dor anginal, síncope devido a distensão diafragmática após aerofagia), dispépsias hiposecretoras, disquinesias
hepatobiliares, gastroenterite.
Falta de apetite ou inapetencia.
Parasitose intestinal.
Alterações respiratórias:
bronquite, enfisema, asma.
Insuficiência láctea.
Diabetes.
Hipomenorrreia,
dismenorreia.
Uso externo:
Dermatomicose, otite,
limpeza de feridas, ulcerações dérmicas e queimaduras.
Contraindicações
Hipersensibilidade a alguma
planta da família das Umbelíferas ou Asteraceas.
Dispepsias
hipersecretórias, obstrução dos canais biliares.
Não administrar a
pacientes com hipersensibilidade conhecida a este ou outros óleos essenciais,
nem aplicar topicamente a pessoas com alergias respiratórias.
Hiperestrogenismo. A
menos que expressamente indicado, recomenda-se abster-se de prescrever óleos
essenciais puros internamente a crianças com menos de seis anos de idade ou a
doentes com gastrite, úlceras gastroduodenais, síndrome do intestino irritável,
colite ulcerosa, doença de Crohn, doenças hepáticas, epilepsia, Parkinson ou
outras doenças neurológicas.
Gravidez. Não deve ser
utilizado durante a gravidez devido à ausência de dados que sustem a sua
segurança. Isto implica que tenham sido realizados estudos em várias espécies
de animais, utilizando doses várias vezes superiores às humanas, sem que tenham sido registados efeitos embriotóxicos
ou teratogénicos; no entanto, não foram realizados ensaios clínicos em seres
humanos, pelo que a utilização de alcaravia só é aceite em caso de ausência de
alternativas terapêuticas mais seguras.
Lactação. Não deve ser
utilizado durante a amamentação devido à ausência de dados que avaliem a sua
segurança. Desconhece-se se os componentes da alcaravia são excretados em
quantidades significativas com o leite materno e se isso pode afetar a criança.
Recomenda-se parar de amamentar ou evitar a administração de alcaravia.
Precauções e interações
O óleo puro essencial
pode ser irritante para a pele e mucosas membranas e, em doses elevadas,
neurotóxico (convulsivo) e abortivo, especialmente devido à presença de carvão.
Em crianças pequenas,
deve-se ter especial cuidado ao utilizar óleo puro essencial e nunca exceder as
doses diárias recomendadas, uma vez que os óleos essenciais podem ser
neurotóxicos e convulsivos.
Interação com outros
medicamentos: não foram reportadas interações com medicamentos.
Efeitos secundários e
toxicidade
Não foram reportadas
reações adversas nas doses terapêuticas recomendadas.
Em doses elevadas, o óleo
essencial deve ser manuseado com cuidado, pois pode ser neurotóxico
(convulsivo, dor de cabeça, vertigem e ilusões) e abortivo.
O óleo essencial da
alcaravia pode causar, muito raramente, reações de fotosensibilidade devido à
presença de furanocoumarinas, compostos conhecidos como fotosensibilizantes,
pelo que a exposição solar deve ser evitada durante o período de utilização do
mesmo.
Em caso de sobredosagem,
associada ao consumo contínuo de grandes quantidades de óleo essencial ou
licores à base de alcaravia, foram descritos casos específicos de insuficiência
hepática ou insuficiência renal.
No entanto, a
probabilidade de intoxicação pelo consumo de infusões é muito baixa.
Estudo clínico sobre a sua ação a nível do aparelho digestivo:
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Estudo clínico sobre a sua ação antibacteriana:
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Estudo clínico sobre a sua ação quimiopreventiva:
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